quarta-feira, 11 de dezembro de 2013

A PAIXÃO

Paulo César Gomes  


O talento de Alceu Valença disse numa belíssima canção que: “A solidão é fera, solidão devora”... Sem dúvida uma verdade. Mas a afirmação também encaixa perfeitamente quando a palavra é “paixão.  Esta, além de cegar e ferir (pois é mais do que é uma fera, é uma fera indomada), distorce, transforma, agride, calunia, dimensiona, produz mentiras, exageros, agressões.

A paixão é o estado febril que nos leva através da adrenalina, do êxtase de viver e dizer sem limites, a fazer aquilo que o coração manda e não o que o cérebro diria se fosse colocado em funcionamento.

É na paixão que se xinga, que vocifera, que se mata. São nos atos passionais que surgem os assassinatos, os arroubos e os mais variados atos de violência física e verbal.
O bicho homem, contraditoriamente está cada vez está mais próximo da fera irracional do que do sábio.  Usa - e prefere mais usar - a paixão do que a razão.  Na paixão  é levado, conduzido. No pensar, teria que levar suas atitudes carregando o “peso” dos argumentos, das teses, do ouvir e de  exercitar o contraditório, debater.

Quando apaixonado estamos por alguém ou por algo, é regra,  falar, não ouvir; impor, não considerar;  agredir em vez de compreender. A paixão  é pimenta que tempera verbos, que faz palavras virar flechas e que fomenta naturalmente o verbo atacar.  A paixão tem a mágica de carregar nas tintas aquilo que não é tão pesado, fazer sumir o que está claro, e incendiar idolatrias em amores absurdos e colocar ódios em figuras ou causas pelas quais não somos simpáticos, incendiando  amores distorcidos e produzindo ódios absurdos escolhendo vilões em visagens.

De todas as paixões, a que se mostra mais feroz e ridícula, é a clubística. O futebol tem essa magia do bem e do mal. A de criar um amor bonito, mas ao mesmo tempo monstruoso de amar o nosso clube de maneira incondicional - e irracional -  e de uma maneira maior ainda, odiar a quem elegemos como principal oponente e odiado rival.

Saber domar esta besta fera e cega  para  que não sejamos reproduções humanas de suas atitudes é um dos grandes desafios para aqueles que já foram tocados, por essa menina, bela e monstruosa chamada “paixão”.


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