A PAIXÃO
Paulo César
Gomes
O talento de Alceu Valença disse numa belíssima canção
que: “A solidão é fera, solidão devora”... Sem dúvida uma verdade. Mas a
afirmação também encaixa perfeitamente quando a palavra é “paixão. Esta, além de cegar e ferir (pois é mais do que
é uma fera, é uma fera indomada), distorce, transforma, agride, calunia,
dimensiona, produz mentiras, exageros, agressões.
A paixão é o estado febril que nos leva através da
adrenalina, do êxtase de viver e dizer sem limites, a fazer aquilo que o
coração manda e não o que o cérebro diria se fosse colocado em funcionamento.
É na paixão que se xinga, que vocifera, que se mata. São
nos atos passionais que surgem os assassinatos, os arroubos e os mais variados
atos de violência física e verbal.
O bicho homem, contraditoriamente está cada vez está mais
próximo da fera irracional do que do sábio.
Usa - e prefere mais usar - a paixão do que a razão. Na paixão é levado, conduzido. No pensar, teria que
levar suas atitudes carregando o “peso” dos argumentos, das teses, do ouvir e de
exercitar o contraditório, debater.
Quando apaixonado estamos por alguém ou por algo, é regra, falar, não ouvir; impor, não considerar; agredir em vez de compreender. A paixão é pimenta que tempera verbos, que faz palavras
virar flechas e que fomenta naturalmente o verbo atacar. A paixão tem a mágica de carregar nas tintas aquilo
que não é tão pesado, fazer sumir o que está claro, e incendiar idolatrias em
amores absurdos e colocar ódios em figuras ou causas pelas quais não somos simpáticos,
incendiando amores distorcidos e
produzindo ódios absurdos escolhendo vilões em visagens.
De todas as paixões, a que se mostra mais feroz e
ridícula, é a clubística. O futebol tem essa magia do bem e do mal. A de criar
um amor bonito, mas ao mesmo tempo monstruoso de amar o nosso clube de maneira
incondicional - e irracional - e de uma
maneira maior ainda, odiar a quem elegemos como principal oponente e odiado
rival.
Saber domar esta besta fera e cega para
que não sejamos reproduções humanas de suas atitudes é um dos grandes
desafios para aqueles que já foram tocados, por essa menina, bela e monstruosa
chamada “paixão”.
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