terça-feira, 17 de março de 2009

Cultura



Poema atribuído a Neruda
é da brasileira Martha Medeiros



O poema Muere Lentamente (Morre Lentamente), atribuído por engano a Pablo Neruda, circula há anos na Internet sem que nada nem ninguém seja capaz de deter a bola de neve, ao ponto de, na Espanha, muitas pessoas terem recebido esses versos como votos online de um feliz ano-novo.


"Morre lentamente quem não viaja,/ quem não lê,/ quem não ouve música,/ quem não encontra graça em si mesmo./ Morre lentamente/ quem destrói seu amor próprio,/ quem não se deixa ajudar..."


Assim começa o poema que não se chama Morre Lentamente, mas A Morte Devagar, que não é do poeta chileno como assegurou à EFE a Fundação Pablo Neruda, mas da escritora e poeta brasileira Martha Medeiros. O próprio jornal Estampa, de dezembro, do Sintrafesc, cometeu o mesmo equívoco e, por isso, pede desculpas aos leitores.


Este verso e outros mais circulam na internet há muito tempo e "não sabemos quem os atribuiu a Neruda, mas os nerudianos que temos consultado não os conhecem", afirma Adriana Valenzuela, bibliotecária da Fundação. Porque não é apenas Muere Lentamente o único "falso Neruda" que encontram os internautas. Também costumam atribuir ao autor do Canto Geral os poemas Queda Prohibido, que é de Alfredo Cuervo, escritor e jornalista espanhol, e Nunca Te Quejes, de autor ignorado pela Fundação.


O diretor executivo da Fundação, Fernando Sáez, diz que não é a primeira vez nem será a última, que as pessoas imputem a um poeta famoso textos que ele jamais escreveu e cuja autoria é desconhecida. Um dos enganos do gênero aconteceu com um famoso texto atribuído a Borges sobre as maravilhas da vida, que nem com sua maior ironia ele teria suportado e menos ainda escrito. O suposto poema de Borges, Instantes, segundo esclareceu a viúva do escritor, María Kodama, é de autoria da escritora norte-americana Nadine Stair.


Mais estrondoso ainda foi o falso apócrifo atribuído a Gabriel García Márquez, La Marioneta, com o qual o prêmio Nobel de Literatura colombiano se despedia de seus amigos, após saber que estava com um câncer. "Se por um instante Deus se esqueceu de que sou um marionete de pano e me presenteasse com um pouco mais de vida, aproveitaria esse tempo o mais que pudesse..." diz o texto cuja "autoria" quase matou de verdade García Márquez, como ele mesmo disse ao desmentir que o poema fosse criação sua. "O que pode me matar é a vergonha de que alguém acredite de verdade que fui eu que escrevi", disse Gabo.


Muere Lentamente é uma poesia da escritora brasileira Martha Medeiros, autora de numerosos livros e cronista do jornal Zero Hora, de Porto Alegre, conforme informou à EFE a Fundação Neruda. Cansada de ver as pessoas dizendo que o poema é do poeta chileno, a própria escritora entrou em contato com a Fundação Neruda para esclarecer a autoria do texto, pois os versos coincidem em grande parte com seu texto A Morte Devagar, publicado em 2000, às vésperas do Dia dos Mortos. Em declarações à EFE, Martha reconhece que não sabe como o poema começou a circular na internet, já que há "muitos textos" seus que estão na rede "como se fossem de outros autores". "Infelizmente, não há nada a fazer", acrescenta.


A poeta e romancista brasileira de 47 anos admira profundamente o poeta chileno Pablo Neruda, de quem se declara uma fã, mas prefere que "cada um tenha seu trabalho reconhecido". No entanto, não perde o sono com essas coisas e assegura que tem "humor suficiente para rir de tudo isso". A Fundação concorda com Martha e afirma que pouco pode ser feito para deter esta bola de neve na rede, já que ao fazermos uma busca no Google sobre o poema Muere Lentamente associado ao nome do poeta Pablo Neruda, vão aparecer milhares de referências ao poema associado ao nome do poeta.


QUEM MORRE?


Morre lentamente Quem não viaja,
Quem não lê,
Quem não ouve música,
Quem não encontra graça em si mesmo
Morre lentamente
Quem destrói seu amor próprio,
Quem não se deixa ajudar.
Morre lentamente quem se transforma em escravo do hábito
Repetindo todos os dias os mesmos trajeto,
Quem não muda de marca,
Não se arrisca a vestir uma nova cor ou não conversa com quem não conhece.
Morre lentamente quem evita uma paixão e seu redemoinho de emoções,
justamente as que resgatam o brilho dos olhos e os corações aos tropeços.
Morre lentamente
Quem não vira a mesa quando está infeliz
Com o seu trabalho, ou amor,
Quem não arrisca o certo pelo incerto
Para ir atrás de um sonho,
Quem não se permite, pelo menos uma vez na vida,
Fugir dos conselhos sensatos...
Viva hoje! Arrisque hoje!
Faça hoje!
Não se deixe morrer lentamente!
NÃO SE ESQUEÇA DE SER FELIZ.
QUERO AQUI REPARAR O NOSSO ERRO. TAMBÉM EMBARCAMOS NA INFORMAÇÃO ERRÔNEA DE QUE O BONITO POETA ERA DO EXTRAORDIÁRIO PABLO NERUDA. GRAÇAS A UMA PROVIDENCIAL MENSAGEM DE MINHA AMIGA INTERNAUTA REGINA COELI - AMIGA ORKUTEIRA E TRICOLOR DIGA-SE DE PASSAGEM-, FAZEMOS AGORA O DEVIDO REPARO COM A ALEGRIA DE SABER QUE AS BELAS PALAVRAS DO POEMA SÃO DE UMA MULHER, BRASILEIRA, GAÚCHA MAIS PRECISAMENTE.
SAIBA UM POUCO MAIS SOBRE ELA :
Filha de José Bernardo Barreto de Medeiros e Isabel Matos de Medeiros, é colunista do jornal Zero Hora de Porto Alegre, e de O Globo, do Rio de Janeiro. Casou-se com o publicitário Luiz Telmo de Oliveira Ramos e tem duas filhas. Formou-se em 1982 na Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS), em Porto Alegre.
Trabalhou em propaganda e publicidade, mas logo se sentiu frustrada com a carreira. Quando seu marido recebeu uma proposta de trabalho no Chile, decidiu que uma mudança de país seria uma ótima oportunidade para dar um tempo na profissão. Esta estada de nove meses no Chile, na qual passou escrevendo poesia, acabou sendo um divisor de águas na sua vida. Quando voltou para Porto Alegre, começou a escrever crônicas para jornal e, a partir daí, sua carreira literária deslanchou.
Obras publicadas:

Strip-Tease (1985),
Meia noite e um quarto (1987)
Persona non grata (1991)
De Cara Lavada (1995)
Poesia Reunida (1998)
Geração Bivolt (1995)
Topless (1997)
Santiago do Chile (1996).
Trem-Bala (1999) - livro de crônicas já na nona edição, adaptado com sucesso para o teatro,
sob direção de Irene Brietzke.
Non Stop (2000)
Cartas Extraviadas e Outros Poemas (2000)
Divã (2002)
Montanha-Russa (2003)
Esquisita como Eu (2004)
Tudo que Eu Queria te Dizer (2007) - infantil
Doidas e Santas (2008) - livro de crônicas

1 comentários:

Regina Coeli Carvalho disse...

Martha é uma das minhas escritoras favoritas e constantemente leio textos dela atribuidos a outros autores.
beijocas.