quarta-feira, 24 de setembro de 2008





BATENDO UM BOLÃO

com PAULO GOMES



JOÃO SEM MEDO


Em Julho último o nosso querido João Saldanha, "o comentarista que o Brasil consagrou" estaria completando se aqui neste plano estivesse, 89 anos de vida. Foi um sujeito de rara inteligência, ampla cultura,forte personalidade e grande carisma.

No rádio, na TV e escrevendo tinha um estilo próprio, direto, simples que agradava a gregos e troianos. Quando comentava no rádio em dias de jogos no Maracanã, conduzia a opinião da massa. No intervalo todos queriam ouvir o que ele estava achando do jogo. Até mesmo os ouvintes que acompanhavam a transmissão por outra emissora, no intervalo colocavam no prefixo em que o Saldanha estivesse trabalhando. Era uma autoridade no assunto e usando aqui uma expressão que ele mesmo gostava de repetir para definir os grandes craques: "um monstro!"


Com todo o respeito aos demais, foi o maior comentarista que o jornalismo esportivo brasileiro já produziu. Era mais do que isso. Era um personagem ímpar, desses que não nascem sempre. Pois a pessoa reunir inteligência, carisma, cultura, caráter , é sinal de que recebeu aquele capricho a mais do Pai Criador. Aquilo que o baixinho Romário sempre lembra (referindo-se ao que supostamente ocorrera com ele próprio) que no momento da "fabricação", Deus disse: "Esse aí é o cara!"

Certamente Saldanha foi um desses.



João Alves Jobin Saldanha (Alegrete, RS 03 de Julho de 1917 — Roma, 12 de Julho de 1990)



Jornalista e treinador de futebol. Classificou a Seleção Brasileira para a Copa do Mundo de 1970 no México. Só não a comandou na Copa pois não aceitou à imposição do então Presidente da República, o General Garrastazu Médici que queria a convocação do centroavante Dario, o Dadá Maravilha do Atlético Mineiro. Saldanha que não sabia 'engolir sapos' e nem 'tinha papas na língua', mandou o recado: "O senhor escala o seu Ministério; o meu time, escalo EU!"
Campeão Carioca pelo Botafogo em 1957 no mágica equipe de Nilton Santos, Didi, Quarentinha e Garrincha.

Foi comentarista das principais emissoras de rádio e de TV do Rio de Janeiro e colunista de vários jornais cariocas. Recebeu de Waldir Amaral a sábia marca de "O comentarista que o Brasil inteiro consagrou".

Nos deixou em 1990 durante a Copa do Mundo da Itália. Onde de cadeira de rodas e proibido pelos médicos (pois sofria com um enfisema pulmonar) insistiu em ir trabalhar na cobertura da competição pela Rede Manchete de Televisão onde era o comentarista titular.

Botafoguense, militante do PCB - Partido Comunista Brasileiro,o Partidão de Luis Carlos Prestes. Grande analista também de samba e de vários assuntos - pois sua imensa cultura não o reduzia a ser apenas um expert no futebol - era um colega solidário, um grande ser humano. Era um grande jogador de xadrez e entendia muito de turfe.
Autor de frases que viraram máximas no futebol e atribuídas erroneamente a outras figuras como o folclórico treinador carioca
Neném Prancha que ganhou de graça e de maneira equivocada a autoria de frases criadas por Saldanha como :
"Pênalti é uma coisa tão importante que deveria ser batido pelo presidente do clube" e a antológica: "se macumba ganhasse jogo, o campeonato baiano sempre terminaria empatado"...

Gabava-se de ter assistido in loquo a todas as copas do Mundo e de ter integrado a histórica Marcha dos 100 mil homens de Mao-Tsé-Tung na revolucionária tomada da China em 1934. Exageros criados pela fantástica fantasia do João, um amante voraz do futebol e das causas políticas.

Esse era o João sem medo, um dos mais brilhantes joões já produzidos nesse Brasilzão!

Certamente se pudesse mandar uma mensagem agora pra gente, o João Sem Medo - apelido que revela o seu temperamento forte, corajoso e esquentado - bateria continência levemente na testa, e com uma piscada de olho diria: "Meus amigos, obrigado!"


LEIA SOBRE JOÃO SALDANHA :

JOÃO SALDANHA - COLEÇÃO PERFIS DO RIO
AUTOR: JOÃO MÁXIMO
EDITORA: RELUME DUMERÁ138 PÁGINAS

JOÃO SALDANHA - UMA VIDA EM JOGO
AUTOR: ANDRÉ IKI SIQUEIRA
EDITORA: COMPANHIA EDITORA NACIONAL
552 PÁGINAS



VIDA QUE SEGUE - CRÔNICAS DE JOÃO SALDANHA

(SOBRE AS COPAS DA INGLATERRA 1966 E MÉXICO 70
DEPOIMENTOS INÉDITOS DO JOÃO E CADERNOS DE FOTOGRAFIAS DE 32 PÁGINAS)

ORGANIZÇÃO E PESQUISA: RAUL MILLIET FILHO
PREFÁCIOS DE OSCAR NIEMEYER, TOSTÃO E SÉRGIO CABRAL
EDITORA : NOVA FRONTEIRA
PÁGINAS : 336´PÁGINAS








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