sexta-feira, 4 de novembro de 2011

POUSO PACATO EM PLUTÃO - RAUL SEIXAS



Estou perdido na varanda de Mercúrio sem asas para perseguir o meu eco.
Estou dominado pela rainha Medusa, sentada na sua poltrona de veludo verde com seus noves cães de prata ao lado.

Estou agora em labirintos de anis, onde mordomos gentis sorriem bemóis. Me cumprimentam cordialmente, centauros errantes nos pastos lilases do lado de fora.

Cavalgo em renas de rendas em desvairada velocidade para, angustiado alcançar seus cabelos de nylon que enfeitam a bandeira de sonhos.

E lá se vai eu...

Estou correndo no sangue das verdes veias duma idéia que brotou da fonte do ano que passou.

Sento-me no amarelo. Estou chorando em hipérboles! Estou perdido na varanda de Mercúrio sem asas para perseguir meu eco. Estou no espaço cósmico. Na plasmibiose do universo que se agiganta e me engole. Estou há bilhões de anos-luz distante de mim mesmo.

Gentes de cera lustrosa arrastam seus corpos em direção à porta para nada. Suco de clorofila borbulha em espumas verdosas em canecos de bronze, onde anões bebem sem boca.

Agora onde estou eu não sei, nem nunca soube.

Estou no cume do arco-íris? Na parte roxa daquele transferidor?

Sei lá. Não m'importa.

Sentado, sozinho, sem medo de cair, às sete horas de cores e uma mistura, eu pouso pacato em Plutão, montado numa borboleta gigante, tranquila, quieta e colorida.

Pouso pacato em Plutão; com um guarda-chuva e uma máquina de costura... (daquelas Singer antigas de pedal, que vovó usava para fazer gorrinhos pra mim).

E a chuva promete não deixar vestígios...

Raul Seixas


1 comentários:

PAULO GOMES disse...

Claro que sim David. Muito obrigado pelas palavras.
Já estamos colocando o link.
Um abraço!