AMOR AO FUTEBOL
ALÉM MAR
Paulo Gomes
Em dezembro de 1993 recebi uma proposta de trabalho para atuar em uma emissora de Portugal, a Rádio Miramar de Lisboa. Em dezembro daquele ano, no dia 29, embarquei para a terrinha dos nossos patrícios. Apesar da bela acolhida e receptividade e do excelente desafio, passei o reveillon mais triste da minha vida.
Rapidamente me adaptei ao país, aos costumes e fiz novos e grandes amigos. Não conseguindo ser indiferente ao esporte local, escolhi um time na nova cidade, que, diga-se de passagem, respira futebol. Incrível a paixão deles. Benfica, Sporting e Porto são verdadeiras religiões dos portugueses.
Escolhi o verde do Sporting por várias razões. Nunca torci pelos clubes de maiores torcidas. O Benfica lá corresponde ao Flamengo, ao Bahia. Apesar de ter tido há pouco tempo antes da minha chegada, o grande zagueiro Ricardo Gomes, uma das crias do meu Fluminense, e claro, um dos meus ídolos.
O Sporting tem como símbolo o Leão, o mesmo do Vitória. Uma
história dedicada aos esportes olímpicos - assim como o Flu - e tinha na época um belo time, onde despontava o jovem Luis Figo.
Mas apesar da nova paixão local - o Leão de Alvalade - eu não conseguia esquecer os verdadeiros amores. Dia de Ba-Vi ou Fla-Flu então, era sofrimento à distância. Não tínhamos ainda o luxo de hoje da Santa Internet e da fartura dos canais a cabo, que passam literalmente tudo 'de cabo a rabo'.
Os jornais O Globo, Folha de S.Paulo e Estadão só chegavam com dois dias de atraso. As revistas semanais, ISTOÉ e VEJA, com uma semana de defasagem.
Os gols do Brasil via TV - somente aos domingos na hora do almoço mas também com uma semana de defasagem. Eram exibidos na TVI, emissora da Igreja Católica e segundo canal de TV comercial surgido em Portugal. Quem apresentava os gols que eles chamavam de "Brasileirão", era o carioca e vascaíno
Mas apesar da nova paixão local - o Leão de Alvalade - eu não conseguia esquecer os verdadeiros amores. Dia de Ba-Vi ou Fla-Flu então, era sofrimento à distância. Não tínhamos ainda o luxo de hoje da Santa Internet e da fartura dos canais a cabo, que passam literalmente tudo 'de cabo a rabo'.
Os jornais O Globo, Folha de S.Paulo e Estadão só chegavam com dois dias de atraso. As revistas semanais, ISTOÉ e VEJA, com uma semana de defasagem.
Os gols do Brasil via TV - somente aos domingos na hora do almoço mas também com uma semana de defasagem. Eram exibidos na TVI, emissora da Igreja Católica e segundo canal de TV comercial surgido em Portugal. Quem apresentava os gols que eles chamavam de "Brasileirão", era o carioca e vascaíno
José Roberto Tedesco que trabalhou na TV Bandeirantes Rio nos anos 80 ao lado de Galvão Bueno, Paulo Stein e Márcio Guedes, época do programa "Bola na Mesa".
O Tedesco - gente finíssima inclusive - foi um dos nossos convidados a comer uma bela feijoada brasileira no apartamento pago pela emissora em que eu eu morava e dividia com outros colegas brazucas da rádio. Um almoço inesquecível de confraternização que só nós brasileiros sabemos fazer...
O Tedesco - gente finíssima inclusive - foi um dos nossos convidados a comer uma bela feijoada brasileira no apartamento pago pela emissora em que eu eu morava e dividia com outros colegas brazucas da rádio. Um almoço inesquecível de confraternização que só nós brasileiros sabemos fazer...
- A saga da saudade do país do futebol -
Em dias de Ba-Vi ou Fla-Flu, eu endoidava! Como um louco, esperava dar sete da noite (horário daqui), mais de meia noite (horário de lá), para enfrentar o frio que cortava lábios e tinha trilha sonora de filme de terror da noite lisboeta para ir a um orelhão ligar aqui para casa em Salvador para saber de meu irmão caçula Márcio, o resultados dos jogos...
- E aí, quanto foi o jogo?... - E ele:
- O Vitória arrebentou! 4x0! Vampêta fez três!
E eu: - Meu Deus, agora que eu vim embora, é que esses times resolvem arrebentar?!!! Eu tenho que voltar!!!
Outra cena que ficou para sempre na minha memória: Terça-feira sete da manhã, eu lendo as manchetes do programa que apresentava, o ALERTA GERAL:
- "E agora o Esporte"!!! "No futebooool brasileirooooooo"... (era a senha para que todos os brasileiros da rádio largassem o que estavam fazendo para invadir o estúdio esbaforidos para saber o resultado do clássico carioca da rodada, com dois dias de defasagem, mas notícia fresquinha pra nos lá,que chegava no Jornal O GLOBO que eu mesmo comprava) E eu :
-"O FLUMINENSE ARRASOU O FLAMENGO, 3X1!!! SHOW DO SUPER ÉZIO, O ARTILHEIRO TRICOLOR"!!!
E o operador Roger, o 'Gaúcho', rubro-negro roxo, me olhando com cara de choro. Ele que tinha uma "feição mix" de 'Pixote', o menino do famoso filme de Hector Babenco com um bicho preguiça e as olheiras de um guaxinim.
- E aí, quanto foi o jogo?... - E ele:
- O Vitória arrebentou! 4x0! Vampêta fez três!
E eu: - Meu Deus, agora que eu vim embora, é que esses times resolvem arrebentar?!!! Eu tenho que voltar!!!
Outra cena que ficou para sempre na minha memória: Terça-feira sete da manhã, eu lendo as manchetes do programa que apresentava, o ALERTA GERAL:
- "E agora o Esporte"!!! "No futebooool brasileirooooooo"... (era a senha para que todos os brasileiros da rádio largassem o que estavam fazendo para invadir o estúdio esbaforidos para saber o resultado do clássico carioca da rodada, com dois dias de defasagem, mas notícia fresquinha pra nos lá,que chegava no Jornal O GLOBO que eu mesmo comprava) E eu :
-"O FLUMINENSE ARRASOU O FLAMENGO, 3X1!!! SHOW DO SUPER ÉZIO, O ARTILHEIRO TRICOLOR"!!!
E o operador Roger, o 'Gaúcho', rubro-negro roxo, me olhando com cara de choro. Ele que tinha uma "feição mix" de 'Pixote', o menino do famoso filme de Hector Babenco com um bicho preguiça e as olheiras de um guaxinim.
Desespero também dos meus chefes flamenguistas, o diretor Jorge Guimarães e o coordenador Airton Rebello ex-narrador da Globo, Nacional e Tupi do Rio.
Alegria do tricolor Manolo Martins, grande repórter também que foi da Tupi Rio. Lá também trabalhava o vascaíno Antonio Carlos Duarte, hoje integrando o time de esportes da Globo Rio, comandado pelo Garotinho José Carlos Araújo.
Alegria do tricolor Manolo Martins, grande repórter também que foi da Tupi Rio. Lá também trabalhava o vascaíno Antonio Carlos Duarte, hoje integrando o time de esportes da Globo Rio, comandado pelo Garotinho José Carlos Araújo.
Como posso me esquecer das lágrimas que vieram a meus olhos quando recebi uma carta da família e dentro dela, um desenho de meu sobrinho Maurílio, então com quatro anos de idade.
A figura era a de um goleiro com braços imensos que mais parecia os do Homem Borracha do 'Quarteto Fantástico' e a frase escrita com letras tortas e invertidas de criança que soou como manchete para um leitor sedento de notícias: "PAULO, O GOLEIRO DIDA FOI PRO CRUZEIRO!"
Claro, que o choro foi pela saudade e pela atitude do meu sobrinho e não pela inevitável venda do jovem e talentoso goleiro rubro-negro.
Quantas vezes peguei o trem no finalzinho da tarde em Paço D'arcos com destino a Cascais para comprar os jornais brasileiros no Cascais Shopping, na busca louca e fanática pelos resultados dos campeonatos carioca e baiano...
Que exílio! Que dureza ficar longe dos nossos times e do nosso país... Se fosse hoje em dia com a magia da internet, essa macumba dos deuses cibernéticos, a coisa seria fácil demais... Mas será que seriam produzidas situações que resultam hoje nessas doces e gostosas recordações?...
Só mesmo a paixão pelo futebol para fazer coisas assim, que enriquecem o meu baú de lembranças...
9 comentários:
Paulo Gomes, sou impressionado com sua capacidade de relembrar fatos. Gostaria de ter essa memória de elefante (se é que elefante tem essa pródiga memória). Por isso, vc merece continuar escrevendo a memória do rádio brasileiro. Aliás, prestando um grande serviço à história e, consequentemente, aos nossos netos...
Grande abraço.
Jota Lacerda
Obrigado Lacerda. É por causa disso que a turma do colégio (ainda no curso ginasial) me deu o apelido de kranio metálico. Infelizmente com o passar do tempo, alguns su]inais de oxidação começam a aparecer nele, mas enquanto ainda apresentar pedaços intactos, a gente vai lembrando de algumas coisas marcantes.
Obrigado pelas palavras, amigo!
Grande Paulo!
Cara, é um prazer cada vez que venho a esse blog dar uma passadinha e encontrar textos e histórias cada vez mais interessantes.
Continue assim! Sendo esse jóia rara, humilde e carismática!
Prazer maior é poder ter te conhecido pessoalmente e poder compartilhar da suas graça, das suas histórias, piadas, caricaturas, e tudo o que cabe, com todo o respeito, nessa " culta enciclopédia ambulante"!
Parabéns, meu velho!
Forte abraço!
Bruno Topázio.
Grande Bruno!
Rapaz que coincidência, acabei de te mandar a crônica via email.Para minha surpresa, vi que o amigo é mesmo um fiel leitor do Blog, pois quando retornei, vi aqui o seu comentário.
Valeu garoto! Fico sensibilizado com suas palavras, pois sei que são sinceras e de um cara que além de amigo, é um sujeito inteligente!
Um abraço!
Parabens pela narrativa Paulo.
Belissimos texto nos fazendo pensar o quanto nossos times do coração são representativos em nosso vida. A paixão por eles transcende qualquer distancia.
Valeu Bruno Piazza, grande cruzeirense! Obrigado pelas palavras.
Coloquei seu blog aqui na lista de indicações do nosso.
Um abração!
Depoimento comovente! Imagino de longe como é a saudade de casa no exemplo mínimo de saudade que sinto de serrinha, a 170km daqui e de uns 20 dias que passo sem ir lá! Admito: Nunca sofri!
Quanto à emoção sobre o desenho do sobrinho... inenarrável!
Parabéns!
Gde Paulo, amigo (parceiro de jornal) de longas datas...
Realmente é solidão e tristeza viver longe da família e do país, mas acredito (pelo que li) você tirou de letra. O futebol te deu forças para aguentar tudo. Ou seja, o futebol também tem a facanha de diminuir distâncias e esquentar o sangue do torcedor em qualquer lugar.
Nesse período que ficou em Portugal lembrava muito de ti quando seu "Fluzão" aprontava com o meu "mengão".
PS. AS ASPAS É QUE O NOSSO TIME NÃO ESTÁ INDO BEM DAS PERNAS.
E aí falava: Poxa se Paulo tivesse aqui com certeza iria curtir comigo...
É isso aí!!!
Quando nada serviu como uma grande experiência morar longe de casa.
Forte abraço do amigo
Leon
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