Pobre Mãezinha Querida
No final dos anos sessenta, o poeta Jorge Enrique Adoum voltou ao Equador, depois de longa ausência. Nem bem chegou, cumpriu o ritual obrigatório da cidade de Quito foi ao estádio, ver jogar o time do Aucas. Era uma partida importante, e o estádio estava repleto. Antes do Início, fez-se um minuto de silêncio pela mãe do juiz, morta na véspera. Todos levantaram, todos calaram. Em seguida, um dirigente pronunciou um discurso destacando a atitude do esportista exemplar que ia apitar a partida, cumprindo com seu dever nas mais tristes circunstâncias. No meio do campo,cabisbaixo, o homem de preto recebeu o denso apaluso do público. Adoum piscou, besliscou um braço: não podia acreditar. Em que país estava? As coisas tinham mudado muito. Antes, as pessoas só se ocupavam do árbitro para gritar filho da puta!
E começou a partida. Aos quinze minutos, explodiu o estádio: gol de Aucas. Mas o árbitro anulou o gol, por impedimento, e imediatamente a multidão recordou a finada autora dos seus dias:
- Órfão da puta! - rugiram as arquibancadas.
FUTEBOL AO SOL E À SOMBRA
EDUARDO GALEANO
1995 - SETEMBRO DE 2004
L&PM POCKET
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