sexta-feira, 7 de novembro de 2008

Destravando a Língua Portuguesa


O MALDITO GERUNDISMO
Pasquale Cipro Neto

Você já deve ter ouvido frases como: "eu vou estar passando", "o senhor vai estar sendo informado", ETC.
A mania foi batizada de gerundismo, uma forma incorreta de falar onde são utilizados três ou mais verbos juntos, de uma só vez..  O repórter Lúcio Sturm fez uma matéria interessante sobre o assunto.  Os sábios dizem que a sofisticação está na simplicidade.  Mas tem muita gente que gosta de complicar, principalmente o idioma. Uma praga trazida pelo marketing está virando moda nas empresas. É o gerundismo, o uso desnecessário e mal feito do verbo no gerúndio. Quem fala assim pode se achar culto, mas o interlocutor pode interpretar de outro jeito.
Os professores de português acreditam que o uso em excesso do gerúndio é uma má tradução do inglês para o português. O gerundismo não chega a ser errado, mas muita gente usa de forma inadequada. O fenômeno do gerundismo ocorre quase sempre para se referir a uma ação futura.
A estrutura básica é a seguinte: verbo ir (eu vou, você vai) + verbo estar no infinitivo + qualquer verbo no gerúndio. Fica assim: Eu vou estar enviando, ‘Você vai estar recebendo’, ‘Eu vou estar transferindo’, ‘O senhor vai estar aguardando, etc. Tem verbo demais, né?...
Como se não, bastasse os gerundistas às vezes acham um jeito de colocar mais um verbinho. Exemplo: ‘A senhora vai poder estar utilizando três vezes este cartão’. O modismo está tão disseminado que virou questão de vestibular. Na segunda fase da Fuvest, os examinadores perguntaram se esta forma de emprego do gerúndio é correta. As respostas foram bem divididas. Mas, a resposta certa é: depende. ‘Na frase: ‘Domingo, às 16h, o Corinthians vai jogar contra o Paulista’, se eu disser que ‘O São Paulo vai estar jogando contra o Palmeiras no mesmo horário’ está perfeito. O verbo ‘i’, junto com o verbo ‘estar’, dá uma idéia de futuro. E ‘estar’ dá uma idéia de simultaneidade com o outro fato futuro’, explica Platão Saviolli, professor de português.
A estrutura é inadequada para se referir apenas a uma ação isolada. ‘As pessoas têm dito: ‘Um minuto que eu vou estar transferindo a ligação’. Acontece que a transferência da ligação é imediata: aperta-se um botão e fim, a ligação está transferida’, comenta Pasquale Cipro Neto, professor de português.
Assim como ocorre com outros vícios de linguagem, é difícil saber exatamente como surgiu o gerundismo. A hipótese mais aceita é que a mania é uma adaptação de uma estrutura da língua inglesa, que se espalhou no Brasil através do telemarketing. Hoje, as empresas de telemarketing tentam acabar com a mania que elas mesmas criaram. Em uma delas, tem até uma caçadora de gerundismo. Ela monitora o atendimento feito pelos operadores. Quando alguém abusa do gerúndio, vai parar na reciclagem.
Agora, já existem até campanhas para acabar com o gerundismo. Na Internet, tem um blog só sobre isso...
No estúdio, Ana Maria Braga conversou com Pasquale Cipro Neto, professor de português, sobre o gerundismo. Foi um bate-papo com muito humor.
Uma dúvida perguntada pela apresentadora foi sobre o verbo ‘Falir’. Pasquale destaca que esse verbo é defectivo e, portanto, é conjuagdo comente em duas pessoas: nós (falimos) e vós (falis). Portanto, a empresa não fale, vai à falência.
Outro exemplo foi dos verbos despercebido e desapercebido. O primeiro tem sentido de não percebido, não notado. Já o outro (desapercebido) tem dois sentidos: de ignorado e de carente. Exemplo: ‘Estou desapercebido de dinheiro’.

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