POR QUE EU TENHO UM BLOG
Ele nos dá liberdade, embora nos subtraia a autoridade
Por Andrew Sullivan*
Cerca de 175 mil blogs são criados a cada dia. No final de 2007 havia quase 1 bilhão deles. De um ano para o outro crescem 40%. São cifras estabelecidas pelo portal Technorati, porta de entrada dos blogueiros. Mas são números duvidosos porque é impossível contá-los com precisão. A blogosfera é como o espaço, infinita.
O termo 'blog" é a aglutinação das palavras "web" e "log" (diário de bordo em inglês). Contém, em suas quatro letras, uma descrição consisa e acurada. É uma reunião de pensamentos e escritas postas publicamente na internet. Como um diário, o blog não permite edição retroativa e sua escrita dispensa maior cuidado na construção. É a expressão espontânea do pensamento - mais efêmero do que o jornalismo diário. Suas fronteiras são porosas e sua verdade, transitória.
Nós blogueiros temos poucas oportunidades de reunir pensamentos e esperar até que os fatos se assentem para discuti-los. Blogamos assim que as notícias chegam até nós. Nenhum colunista, repórter ou romancista tem suas pequenas contradições expostas de forma tão inclemente. Para os blogueiros, o prazo é sempre agora. É como escrever em voz alta.
Em 2000, quando comecei a fazer um blog, comprovei que o meio digital favorecida o tom coloquial, inacabado, como se estivesse escrevendo um e-mail. isso é naturalmente arriscado, como sabe quem já apertou a tecla "enviar" durante um surto de raiva. Mas a mídia exige essa disposição para o risco. Fiquei viciado. Achei libertadora a experiência de poder transmitir diretamente as minhas palavras, sem atrasos de gráfica, revisões, políticas empresariais e cortes de última hora para arrumar espaço, como ocorre na imprensa tradicional. Mas descobri que há um porém. Minutos depois de postar algo, os leitores respondem, mais agressivos do que qualquer editor, mais ranhetas do que qualquer revisor, mais desequilibrados do que qualquer coleguinha.
Eu já fui atacado por matérias antes - mas na forma amorfa e distante das cartas à redação e de cancelamentos de assinatura. Agora o retorno é instantâneo, pessoal e brutal.
O blog continua sendo um meio superficial, na medida em que exige brevidade e imediatismo. Ninguém lê um tratado de 9 mil palavras online.
Mas essa superficialidade mascara uma profundidade até maior, em certo sentido, do que a da mídia tradicional. Isso se deve a uma única inovação tecnológica: o hiperlynk. Na internet um hiperlynk dá ao leitor a possibilidade de ler, instantaneamente, o material primário. Um blog, portanto, tira o poder do autor, que precisa se contentar com uma autoridade menor. Ele é um nó entre nós, conectado mas inacabado se não tiver os links, comentários e menções que fazem da blogsfera uma conversa.
mas a idéia de que o blog pode substituir a escrita tradicional é tão tola quanto perniciosa. A torrente de sacadas, idéias e argumentos na blogsfera acaba concedendo um valor maior a quem consegue finalmente tirar um sentido de tudo, gerando algo mais sólido e duradouro. As linhas gerais deste artigo, por exemplo, aparecem de forma fragmentada em meu blog. Mas ter de ordená-las ajudou-me a mais bem entendê-las e a expressá-las com mais clareza.
Na verdade, a despeito do intenso pessimismo em torno do futuro de jornais e revistas, esta é uma era de ouro para o jornalismo. A blogsfera acescentou todo um novo idioma ao ato de escrever e introduziu a não-ficção a uma nova geração. Permitiu que os autores "escrevam em voz alta" de uma forma nunca antes vista ou entendida. E, ainda por cima, expôs uma fome de escrita tradicional que, em plena era da televisão, parecia estar prestes a se esvair.
O escritor inglês
Andrew Sullivan,
blogueiro assumido,
escreveu este artigo para
a revista The Atlantic
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