O meu amigo e colega, Marcos Niemeyer, brilhante radialista mineiro produz um Blog de grande qualidade chamado ONDA CURTA http://umbrasildeaudiencia.blogspot.com/ .
Vira e mexe fazemos aqui um intercâmbio de matérias.
Hoje reproduzo um pequeno artigo que Marcos, um apaixonado pela Bahia escreveu recentemente. Confiram :
apenas gosta de descansar demoradamente na rede.
Pra que pressa?
Reza a lenda que o baiano é preguiçoso, não gosta de trabalhar e só quer saber de festa. Que mentira das mais absurdas! Eu que morei vários anos na Boa Terra sei que tudo não passa de intriga e despeito.
Claro, lá também existem os inoperantes. Mas onde neste mundo não tem gente que passa a vida de braços cruzados, sem nada produzir?
A Bahia não é exceção. Certamente- a exemplo do que ocorre no Rio de Janeiro e em outras cidades praianas- o povo se sente mais à vontade no dia-a-dia. Seja no trato com turistas ou nativos, o baiano é de uma peculiaridade sem precedentes.
Nossos conterrâneos nunca foram preguiçosos. Apenas gostam de descansar na rede demoradamente. Pra que pressa? Povo solícito e hospitaleiro, não se faz se faz rogado diante de um pedido de informação por mais difícil que seja. É capaz, por exemplo, de conduzir um forasteiro até o endereço onde o visitante não saiba onde fica.
Com um linguajar característico - tem até dicionário de baianês- a terra de Caymmi e João Gilberto oferece coisas que nenhuma outra tem. No que diz respeito à música já foi melhor, obviamente.
As belezas naturais e edificadas são incontáveis ao longo do maior litoral brasileiro: Mercado Modelo, Elevador Lacerda, Pelourinho, Farol da Barra, Farol de Itapoã, Lagoa do Abaeté, Feira de São Joaquim, culinária instigante, igrejas seculares, oferendas aos santos nas esquinas, infinitos terreiros para receber os deuses africanos, artes plásticas, literatura, moderna arquitetura que se misturam aos velhos casarões, suntuosos shoppings centers, gente dos quatro cantos do mundo, etc.
A Bahia tem tudo isso e muito mais. O lado folclórico então, nem se fala. Só vendo para crer. A capital soteropolitana é um caldeirão efervescente para as mais variadas tribos. Mas um caso que me chamou a atenção em Salvador ocorreu em 85 quando fui contratado pelo Departamento de Jornalismo da Rádio Sociedade da Bahia, até então, emissora de respeito e credibilidade (hoje pertence ao mega- empresário da fé Edir Macedo).
Eu havia embarcado em um ônibus (na Bahia é chamado de buzú ou faixa) no bairro da Federação, onde fica a emissora, com destino à Igreja do Bonfim. No meio da viagem, um mulato saliente estilo rastafari que ocupava um dos bancos traseiros, salivou em alto e bom som: - Ai, que vontade de comer um cu!
Silêncio geral. Todos se aquietaram e fizeram questão de olhar para trás à procura de onde vinham tamanha falta de respeito e dignidade. Verdadeiro "atentado" aos bons costumes. Até este humílimo escrevinhador voltou seus olhares para a retaguarda.
Avexada, uma velhinha que fazia leitura da bíblia ergueu as pestanas para os céus e rezou o Pai-Nosso com Ave-Maria em tom apocalíptico. Dentadura escancarada até os cantos, diante dos olhares surpresos e repreensivos o mulato de voz gingada, tipo locutor de FM, afirmou com o dedo indicador em riste: EU DISSE UM SÓ!
Mesmo perplexos diante diante de tamanha audácia, todos sorriram (menos a velhinha) e a viagem prosseguiu debaixo de um sol escaldante e trânsito engarrafado. Se fosse em algum outro lugar, certamente o motorista teria parado o coletivo e convocado a polícia para que a ordem fosse restabelecida.Mas era na Bahia, sobretudo em Salvador, onde coisas do arco da velha acontecem. O relato em questão é verídico e parece que acabou virando notícia em um dos jornais da capital soteropolitana.
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